quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Zé Tôcha

Na noite do domingo da decisão do Gauchão, quando a torcida do Grêmio ocupou as principais ruas da cidade para comemorar o título, José Alexandre Marchezotti Iranzo, 46 anos, ao tentar atravessar a avenida Liberdade foi colhido por uma motocicleta. Foi encaminhado em estado grave ao Hospital de Viamão e como o estado inspirava cuidados especiais, permaneceu na emergência a espera de um leito na rede pública do Estado.
Amigos e familiares tiveram então que acionar a Justiça, que através de ordem judicial, conseguiu uma vaga para o acidentado em um hospital na região central do Estado. Porém o quadro do paciente era muito grave e não foi possível a remoção para outra cidade. Na sexta-feira passada, depois de quase uma semana à espera de melhores acomodações e tratamento, José Alexandre faleceu.
Para quem não sabe, José Alexandre Marchezotti Iranzo era uma das mais conhecidas figuras da Santa Isabel. Mas não era conhecido com o seu nome e sobrenome de batismo. José Alexandre era conhecido por todos como o Zé Tôcha, o carregador de ranchos que, desde os tempos do Poko Preço (supermercado que se instalou onde antes funcionava o Cine Rian, bem no centro da Santa Isabel), ganhava uns trocados transportando os ranchos das donas de casa da vila, em seu carrinho de mão. Ele e outros carregadores tinham ponto fixo e tradicional, e a disputa pelo melhores fregueses era bastante acirrada. Foi assim que ele cresceu, trabalhando, e ganhou fama na região, querido por todos. Seu carrinho para transportar ranchos era sensacional. Até sistema de som tinha! O Zeca, que tem uma autoeletrica na Liberdade e que conhecia o Zé desde criança foi que ajudou a instalar o equipamento, com bateria, autofalantes e um potente rádio. Era o seu orgulho.
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O apelido “Tôcha” (de trouxa) veio pela maneira como ele tratava os amigos e aqueles que brincavam com ele, e pela sua deficiente dicção:
- Tu é tôcha! Casô com muié bunita? Agora é corno!
- Não tem dinhêro pá tomá ceveja? Tu é tôcha! Vai trabaiá qui nem eu!
Num primeiro contato havia quem achasse seu tom meio agressivo, mas era só a maneira dele falar. Depois via que era um cara de bom coração. E todo mundo cuidava dele. Todo mundo brincava com ele, com o mito e as estórias que contavam, mas a gente sabia a hora de parar e muitos até o protegiam daqueles que não entendiam os limites da folgação.
E a turma se divertia com o Zé. Nas festas da Sogisi, ficava paquerando a mulherada, na paz, dançando e bebendo a sua cerveja, comprada com a suada função de carregador de rancho. Aliás, muitas vezes a turma toda tinha dinheiro para uma cerveja só. O Tôcha não! Tinha sempre sua grana para fazer a festa. E de novo ele tinha razão: nós é que éramos trouxas. E pelados!
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No sábado passado, parentes e amigos fizeram uma bela homenagem no enterro do José Alexandre. Muita gente foi lá para se despedir do famoso Zé, o cara que ganhou a vida pra cima e pra baixo, mas poeirentas ruas da Santa Isabel. Infelizmente só fiquei sabendo da morte dele na segunda-feira, mas faço questão de fazer este registro pelo carinho que todos nós tínhamos por esta figurinha que vai fazer muita falta na Santa Isabel
Quando o Diário de Viamão lançou uma série de reportagens com as personalidades que todo mundo conhece na cidade, eu e o Sandrinho fizemos um lobby na Redação para que o Tôcha fosse um dos entrevistados. Como a promessa era de que a série voltaria ainda este ano, estávamos esperançosos de que o Zé pudesse pintar nas páginas do DV em breve.
Não deu. Deus tinha outros planos para o Zé.
Coluna publicada em 15 de maio de 2010.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Festas pelo Rio Grande

Publicada em 08 de maio de 2010.

Matriz legal

Alguns vereadores constataram como é difícil para os empresários e investidores se estabelecerem em nosso município, muito pela absurda quantidade de leis e exigências a que são submetidos os novos (e velhos, também) empreendimentos. Uns dizem que é pelo excesso de leis, outros pela falta delas. Tão cedo não chegaremos a um denominador comum. Esta história vai se arrastar e como um trator atolado, não sairá do lugar.
Eu, modestamente, acho que o problema não é nem culpa do excesso, nem da falta de leis. Nosso problema é a falta de clareza destas leis. A legislação viamonense é feita de maneira a dar um nó na cabeça até de experts. Acompanhando os trabalhos do Legislativo, notamos que muitas leis, sejam elas de iniciativa do Poder Executivo ou dos próprios vereadores, são elaboradas de maneira grotesca e incompleta. Pecam os propositores, por não se debruçarem sobre suas criações com o devido zelo e atenção.
Criam os monstros que acabam prejudicando muito mais do que realmente ajudando a sociedade. Infelizmente parece que leis incompletas têm o terrível destino de ficarem incompletas para a eternidade, pois a nossa prefeitura não tem nem mão de obra, nem vontade política ou administrativa de finalizar o serviço.
Simulações
Eu, como arquiteto, sou fã incondicional das simulações. Acho que na elaboração de novas leis, deveriam os nossos legisladores aplicar esta ferramenta, também. Devemos simular todas as hipóteses antes de se considerar concluído um documento tão importante. Assim, não ficariam as brechas que muitas vezes arrombam as intenções e acabam penalizando o cidadão.
Regras obscuras
Outro expediente irritante é a falta de informações à comunidade. Além das leis, que não são divulgadas, temos ainda o inferno das resoluções e decretos que são mais secretos ainda. Contribuinte só fica sabendo que tem mais um decreto incidindo sobre suas solicitações, aos 46 minutos do segundo tempo! Aí vai o pobre coitado atrás de mais insumos. Um amigo costuma brincar que orgasmo de funcionário da Prefeitura é dar comparecimento em processo. E não duvido.
Ampla reforma
Não vejo nenhum demérito em copiar leis de outras cidades. Pelo contrário. Acho uma excelente solução para nivelarmos as condições de disputa por investimentos. Nossas leis não podem ser distintas demais, senão corremos sempre o risco de espantarmos as novas iniciativas, que no comparativo direto acabam optando por municípios que oferecem melhores condições legais.
Eu defendo há muito tempo uma revisão geral de nossas leis municipais. Tirar o mofo dos arquivos, extinguir regras já defasadas e caducas e investir na construção de uma moderna matriz legal, cobrindo as reais necessidades do município e de seus moradores.
Se isso não for realizado, vamos continuar pagando o mico.
Cento e cinqüenta
Hoje este colunista chega à marca de 150 publicações nas páginas do DV. São quase três anos ocupando este espaço tão nobre e disputado. Aos leitores e amigos, que me aturam esse tempo todo, o meu agradecimento pela companhia em todos estes sábados.
Coluna publicada em 08 de maio de 2010.