terça-feira, 17 de março de 2009

Tente escapar ileso

Meu ponto fraco sempre foram os joelhos. Não que eu sofra com dores ou algum tipo de limitação por causa deles. Acontece que, na minha infância e adolescência, eu tinha que me cuidar para não machucar os joelhos. Se batesse, aí era um drama. Quase sempre, quando isso acontecia, a dor era tão forte que eu desmaiava. Tava jogando basquete, no Ramiro Souto ou no Inácio Montanha, batia o joelho e pá! Acordava já do lado de fora da quadra, tentando lembrar o que tinha acontecido e que dia era. Por isso: cuidado dobrado, sempre. Certa feita já na Ufrgs, inventaram um torneio de futebol, daqueles que são só desculpa pra fazer festa, mas com tudo bem organizado, juiz, cronômetro, até medalha tinha. Nossa turma da Arquitetura montou o time e eu fiquei no banco, sozinho. Só tinha eu na reserva. Se alguém se machucasse, do ala ao goleiro, eu era o “regra”. Torci pra não entrar, mas não deu, alguém cansou e pediu pra sair. Aqueci, concentrei e no primeiro lateral o Chimia veio, me cumprimentando, suado, extenuado. Nem deu tempo de pisar na quadra e o Staubus cobrou o lateral direto em mim. Tentei aprumar o corpo, mas não deu outra. “Ta lá o corpo estirado no chão!”. Caí direitinho em cima do joelho. Substituição com três ou quatro segundos de jogo, pra desespero do Chimia. Deve ter sido a substituição mais rápida do futebol mundial. Mas naquela hora a única coisa que passava na minha cabeça era a idéia do desmaio. Meu subconsciente deveria estar gritando com o meu consciente:- Não desmaia! Não desmaia!Lembrei desta história estes dias, conversando com amigos sobre a situação de algumas personalidades políticas de Viamão. Por um período, nossa cidade (e nossos políticos) não tinha muita intimidade com a mídia. Não só jornal. Falo de todas as mídias. A gente assiste ou lê uma entrevista de qualquer figura de outras cidades até do tamanho de Viamão e percebe a desenvoltura, o desembaraço, a malemolência com que esses políticos se expressam. Aqui não, muitos até fogem das declarações pra imprensa. Em suma, falta “cacoete”. E essa falta de cacoete, muitas vezes explica a falta de representantes de nosso município em outras esferas políticas. Nossos políticos, na minha opinião, deveriam ser mais ousados, treinar, nem que seja na frente do espelho, brincando com os amigos em algum churrasco, sei lá. Talvez, assim, a fobia passe, o cérebro responda mais rápido e a nova geração de políticos viamonenses esteja preparada pra brigar de igual para igual com políticos de qualquer lugar. E pra isso tem que passar no vestibular da mídia local. Falem nas rádios comunitárias, chamem os jornalistas nem que seja pra tomar um cafezinho, descubram como funciona uma pauta jornalística. Se liguem! O aprendizado começa muitas vezes dentro de casa, depois o mundo engole a gente.E aí, nessa hora, meu amigo, só resta um conselho:- Não desmaia! Não desmaia!
Coluna publicada originalmente em 16 de junho de 2007.

Roda Mundo

Com certeza eu, você e a maioria dos leitores não fazemos aplicações na Bolsa de Valores e nem especula no mercado futuro. No máximo um dinheirinho na poupança ou ,quando sobra um pouco mais, algum fundo de investimentos para garantir liquidez. E aí vem uma crise internacional, abala as potências econômicas do planeta e lá se vão nossas boas noites de sono.
O mundo todo já sabe que a culpa desta crise sem precedentes é de uma cambada que se diverte com as bolsas mundiais como quem vai para uma máquina caça-níqueis em um cassino, mas que diabos, quem vai pagar este pato são o trabalhadores que sempre têm que dar a sua contribuição para que o capitalismo não sucumba. Marx a esta altura deve estar se divertindo vendo os países capitalistas tendo que assumir uma postura protetora, estatizando, mesmo que temporariamente muitos dos símbolos de riqueza e prosperidade do modelo capitalista. Comunismo às avessas?
Roda-gigante
Aqui no Brasil nosso presidente tentou a todo custo passar a idéia de que todo este tsunami iria chegar com pinta de marolinha. Tirando um ou outro setor que depende da relação internacional de comércio, tudo vai seguir como na piada do vivente que tomou calmante ao invés de remédio para a diarréia: ficou calmo. Cagado, mas muito calmo. Nossa indústria automobilística, por exemplo, não tem do que se queixar (quem se queixam são os presidentes das multinacionais, mas é principalmente porque eles estão socorrendo os seus irmãos nos mercados que realmente foram à banca rota) e parece que fecharam fevereiro com muito mais negócios que há um ano atrás, quando estávamos na ascendente. O negócio é produzir para o mercado interno então!
Roda Moinho
E aqui em Viamão, o maior empregador do município, a Prefeitura, esta semana anunciou que vai apertar mais ainda o cinto. Reflexo da crise mundial assolando as plagas viamonenses. E este anúncio, podem acreditar, vai ser um arrasa quarteirão, para ser mais exato, nos quarteirões que circundam o poder executivo municipal. Porque o comércio do Centro vive quase que exclusivamente do fôlego financeiro dos funcionários da prefeitura. Se a prefeitura começa a dar sinais de que a coisa vai ficar feia, imediatamente vai fazer com que seus servidores comprem com mais cautela (ninguém sabe se os pagamentos vão ser honrados) e comprando com mais cautela vai fazer com que os empresários também invistam com certo receio de que possam quebrar a cara.
Roda pião
E isso vai lomba abaixo, até que a crise chegue no vendedor de pipocas da pracinha. Até esta semana eu ainda acreditava que nossa dimensão no cenário mundial iria trazer poucos transtornos para os habitantes da terrinha, mas depois das declarações dos comandantes do Poder Executivo começo a ficar preocupado. Porque não temos um plano de longo prazo que atraia investidores. Não temos grandes investimentos sejam eles de caráter privado ou do poder público. Não temos nem perspectiva de tê-los nos próximos anos pois falta planejamento para a nossa cidade. E isso é que nos faz frágeis diante das crises. Como brincou este dias um amigo: não vamos sofrer com a crise do setor automotivo porque não temos montadoras aqui, que sofra Gravataí, então. Pois é. Não temos com o que nos preocuparmos.
Coluna publicada em 07 de março de 2009.

A maior festa

Vou escrever mais uma vez sobre o Carnaval de Porto Alegre, mas desta vez não vamos entrar na avenida. Fiquemos apenas com o entorno da festa para levantar os aspectos que reforçam a tese de que o carnaval realmente é a maior festa popular do Brasil e nisso levo em conta apenas o fator financeiro. Quem nunca foi à pista de eventos do Porto Seco não sabe o quanto amadureceu o empreendimento que é o Carnaval. E isso se explica em uma frase: o carnavalesco gosta de gastar dinheiro com o carnaval.
Mas nem se atreva a montar teses sociológicas sobre as relações entre o dinheiro e o trabalho, aquela chorumela sobre a catarse coletiva, e que tudo acaba na quarta-feira com muita dívida e bolso vazio. Estou falando de uma parcela da população que gosta do espetáculo, paga por ele e vai atrás dele onde ele estiver, até mesmo na longínqua Zona Norte de Porto Alegre. E muitos são aqui de Viamão, podem acreditar.
Movimento econômico
Sabe aquela conta que todo mundo faz quando leva os filhos no futebol? Entrada, lanche, bebida, condução. Pois o público do carnaval gasta mais. Até porque carnaval é uma vez só no ano. Gera mais emprego, movimenta mais a economia nestas noites de folia. Não é à toa que os camarotes são disputados em leilão. Os ingressos costumam esgotar em poucas horas.
O movimento de carros e ônibus é enorme. Já era grande quando a pista era na Avenida Augusto de Carvalho, mas tomou uma proporção inimaginável agora que se mudou para longe do Centro. Bebidas, alimentação, segurança, tudo em grande quantidade. Se você não acredita, passa lá ano que vem para conferir. E depois me diga se o Carnaval não é um excelente negócio?
Ainda mais para cidades como a nossa que tem público para isso e pode atrair os foliões de toda a Região Metropolitana. Como eu sempre digo para o Hélio Ortiz, presidente da Assencarv: se a nossa festa temporona for um fracasso, já terá sido um grande sucesso, pelo simples fato de ter trazido à discussão da comunidade a necessidade de maior atenção das autoridades com o nosso carnaval.
A lá la ô...
A grande sacada de levarmos o Baile Municipal para o Vila Ventura é que atraiu tanta gente. Porque o Vila Ventura não é um hotel aberto ao público normalmente. Só para grandes eventos e isso criou um certo mistério sobre o eco-resort. Por isso quando a associação carnavalesca escolheu o Vila Ventura para o Baile, imediatamente quem tinha a curiosidade de conhecer os encantos do lugar (podem acreditar é tudo muito lindo mesmo!) tratou de reservar seu convite. E só o Musical Caravelle já paga o preço da folia.
Alô Vila Isabel!
Tirando um ou outro pessimista de plantão, ninguém acreditou no que fizeram com a nossa Vila. Saí da Passarela do Samba convicto de que estaríamos entre os três primeiros na classificação e ainda de madrugada o Dickow já festejava, informado sobre a segunda colocação no júri popular. Desde que os desfiles foram para o Porto Seco a Vila Isabel não tinha se apresentado tão perfeita em seu conjunto. Só posso reforçar o coro dos indignados. Valeu Urso!
Alô comunidade!
Só uma coisinha... Está na hora da Vila Isabel apresentar um grande tema-enredo, uma superprodução. Tá certo que está fazendo um grande trabalho, mas tema-enredo “novelinha mexicana”, da manjada luta do bem contra o mal, já era. O enredo deste ano ficou muito parecido com o de dois anos atrás. Déjà vu demais!
Coluna publicada em 28 de fevereiro de 2009.

Ainda o Carnaval

Muitos acreditam que agora, passado o carnaval também em nosso município, o assunto deve estar esgotado. Tremendo engano. Teríamos ainda que fazer um rescaldo do desfile do último Sábado, na Avenida Liberdade, e acho os organismos envolvidos (ou seja, a Prefeitura Municipal e as Escolas de Samba), deveriam nos apresentar um balanço do que foi a nossa festa popular. É a hora de entendimento, de cooperação, de projetos para 2009. O que não dá é pra esperar até o fim do ano.ProporçãoUm fato que ficou demonstrado é que o carnaval de Viamão, se minimamente organizado e profissionalizado, nos próximos anos, pode tomar uma proporção metropolitana. O que vimos na avenida foi uma forte comunidade carnavalesca tentando dar o seu recado. As escolas passaram com muita força e a comunidade respondeu à altura. Acho até que muitos dos espectadores foram para a avenida, empolgados com a estrutura montada no ano passado, que tinha arquibancadas e camarotes, que deram um aspecto mais verticalizado à passarela e contribuiu com as apresentações em 2007. Este ano, muitas pessoas nas arquibancadas se queixavam que não conseguiam apreciar os desfiles, e muita gente ficou apertada atrás das estruturas que separavam o público da avenida. Motivo: foi gente saindo pelo ladrão!Só pra compararNo ano em que uma pesquisa avaliou que menos de cinqüenta por cento dos brasileiros gosta de carnaval, e muito menos ainda, vai para a avenida ver os desfiles, quase 40 mil viamonenses passaram pela Avenida Liberdade no Sábado. Só pra comparar, Porto Alegre tem em torno de um milhão e quatrocentos mil habitantes. Se tivéssemos no mesmo dia, duas decisões de campeonato, uma em cada grande estádio, Porto Alegre colocaria em torno de cento e trinta mil torcedores no Beira-Rio e no Olímpico, ou seja, quase dez por cento da população. E ainda assim, muitas das posições nas arquibancadas seriam ocupadas por torcedores de outras cidades e muitos viriam da Grande Porto Alegre. Aí num universo de quase cinco milhões de moradores esta proporção cairia para a casa dos três por cento.Festa PopularAcreditem ou não, se passaram pela Liberdade quase quarenta mil pessoas, em relação à nossa população que é de duzentos e sessenta e cinco mil habitantes, nossa proporção beira os quinze por cento. O carnaval de Viamão, proporcionalmente, movimenta para a cidade mais do que o futebol, que ganha disparado na preferência nacional, para nossa vizinha capital, e ainda assim se tivermos um dia de dupla decisão.Conclusão lógicaIsto posto, só resta um pensamento: é burrice não investirmos profissionalmente no nosso carnaval. É inadmissível que o maior agente cultural, talvez o único que leve o nome de nossa cidade para outras regiões. Que tem quase duas horas de projeção estadual pelas lentes das redes de tevê, não tenha o apoio minimamente aceitável para fazer seu carnaval. É economicamente inaceitável que não tenhamos uma cadeia produtiva que incentive o carnaval e nossas escolas de samba. Apoiar o carnaval é incentivar o comércio local, que vende tecidos, artigos para fantasias, artigos para alegorias, metal e madeira para os carros alegóricos, alimentação para os integrantes e o publico espectador, incremento de viagens no sistema de transporte, seja público ou privado, enfim, dá pra aquecer nossa economia local. Temos demanda para isso, só precisamos pensar com mais seriedade o carnaval. É um produto que pode ser bem explorado se for tratado de forma profissional. Agora só precisamos saber quem vai liderar este movimento.
Coluna publicada originalmente em 23 de fevereiro de 2008.